Crise Energética: Implicações para o Bolso e o Planeta

Crise Energética: Implicações para o Bolso e o Planeta

Em um cenário marcado por mudanças climáticas e desafios estruturais, o Brasil enfrenta uma crise energética que ultrapassa a falta de chuvas e impacta diretamente o cotidiano das famílias e a sustentabilidade do planeta.

O que é a crise energética?

Na essência, a crise energética reúne fatores como uma dependência quase total das hidrelétricas, vulnerabilidades no sistema e a possibilidade de fenômenos climáticos como El Niño intensificarem secas e reduzir níveis de reservatórios.

  • Dependência de hidrelétricas em grandes reservatórios.
  • Infraestrutura envelhecida e falta de investimentos em transmissão.
  • Impactos de eventos climáticos extremos na geração.
  • crescimento desordenado da geração distribuída sem coordenação centralizada.

Em 2021, a crise hídrica expôs deficiências na gestão e na diversificação da matriz elétrica, gerando cortes programados e alerta à população. Mesmo com a expansão de novas fontes, desequilíbrios entre oferta e demanda tornam o sistema suscetível a interrupções e quase blecautes, como ocorreu em abril e agosto de 2025.

Impactos econômicos e no bolso do cidadão

A deterioração das condições de geração reflete-se nas contas de luz, que registraram um aumento acumulado nas tarifas residenciais de 20% entre 2021 e 2023 e mais 6,93% no primeiro semestre de 2025, criando dificuldades para pagar a conta em milhares de lares.

Esse movimento pressiona o índice de inflação, que fechou em 6,5% em 2023, acima da meta estabelecida, e eleva os custos de produção em setores intensivos em energia como alumínio e cimento, reduzindo a competitividade nacional. Dados apontam que pequenas indústrias reduziram em média 15% sua produção em 2023 em função dos custos e instabilidades.

  • Redução do poder de compra das famílias urbanas.
  • Pressão nos orçamentos de pequenas e médias empresas.
  • Perda de competitividade da indústria nacional.
  • Aumento de custos que pode levar ao fechamento de negócios.

Pobreza energética e desigualdade regional

Regiões como Pará, Amapá e Maranhão apresentam índices alarmantes de pobreza energética, com 40%, 39% e 23% das famílias rurais respectivamente enfrentando falta regular de eletricidade.

Nelas, a ausência de equipamentos básicos, como geladeiras e ventiladores, agrava as condições de vida, especialmente durante eventos climáticos extremos que restringem ainda mais o acesso a combustíveis e energia, o que demanda a inclusão social na transição energética.

Além disso, comunidades ribeirinhas e assentamentos remotos sofrem com desligamentos inesperados, o que compromete serviços básicos e a qualidade de vida.

Expansão das renováveis e novos desafios

Atualmente, o Brasil gera 88% de sua energia de fontes renováveis, com destaque para o crescimento de 39,6% na energia solar e 12,4% na eólica em 2024. Juntas, respondem por 23,7% da energia produzida.

No entanto, os picos de geração solar durante o dia e a queda abrupta ao entardecer criam a chamada “curva do pato”, exigindo o acionamento de usinas térmicas mais caras e poluentes para suprir a demanda. Com 43 GW em operação, sendo 95% solar, a geração distribuída desafia o equilíbrio do sistema.

  • Intermitência natural das fontes solar e eólica.
  • Necessidade de sistemas de armazenamento em larga escala.
  • Curtailment por falta de capacidade de escoamento na transmissão.

Infraestrutura, riscos de apagão e desequilíbrios

Os problemas de transmissão e distribuição limitam o aproveitamento pleno da energia gerada, forçando desligamentos de usinas quando há excesso de oferta e falta de infraestrutura para escoar o excedente.

Esse cenário levou o país a beirar blecautes nacionais em 2025, mostrando que o risco de blecautes por excesso é tão real quanto o de falta de energia, exigindo redes mais inteligentes e flexíveis.

Perspectivas para o futuro e soluções estruturais

O Plano Decenal de Expansão de Energia 2031 propõe metas ambiciosas de descarbonização e ampliação de renováveis, mas ressalta desafios na eficiência, no equilíbrio socioambiental e na governança do sistema. Projeções indicam que, até 2029, menos da metade da capacidade instalada estará sob controle direto do Operador Nacional do Sistema (ONS), dificultando o planejamento.

Para garantir um sistema mais resiliente, é fundamental investir em modernização de linhas de transmissão, aumentar a capacidade de armazenamento e promover o balanço entre meio ambiente e infraestrutura de forma sustentável. Políticas de incentivo à eficiência energética e programas de acesso para populações vulneráveis podem reduzir a pobreza energética e fortalecer a economia doméstica, construindo um futuro energético mais justo e seguro para todos.

Robert Ruan

Sobre o Autor: Robert Ruan

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